CASTELO DE ALMOUROL
Vem de lá bem
longe, da bruma dos séculos,
De um tempo antigo
de demorada lembrança,
Façanhoso,
alcandorado na sua jangada de pedra,
Rasgando o rio,
atento e vigilante, hoje guardião do nada.
Nas suas muralhas
ecoa, ainda, o desespero dos vencidos,
E o grito de
vitória dos que lhe ultrapassaram a porta.
Lendária morada de
gigantes e de mouras encantadas,
Palco de muita e
inúteis lutas, goza, agora, da paz eterna
Num demorado sono
em seu solitário eremitério.
Achei-me há dias - e
só num sonho podia ter sido -
Remando novamente,
rio acima, até aquela ilha.
Na noite escura, a
lua cheia brilhava intensamente.
Galgada a escadaria
esboroada pelo roçagar do tempo,
Penetrei no vazio
imenso do castelo e chamei gritando:
Ramiro, Beatriz, Misaguarda,
Polinarda!?
No alto das
muralhas o vento afagava as ameias
E, naquele silêncio
angustiante, ninguém me respondeu.
Se procurardes, no
falar daquelas pedras, a razão das coisas,
Elas dissertarão
sobre a verdade factual que faz a História.
Mas eu, que procuro
no choro pungente dos salgueiros,
Um motivo justificado
para esta minha nostalgia,
Oiço
apenas o sussurro brando do rio que corre remansoso