A
MINHA TERRA
A minha terra não existe,
sou eu que a fantasio
com pequenos fragmentos que vou
roubar ao passado,
peças de um puzzle que não se
encaixam no presente.
A minha terra tem um rio que
corre prazenteiro,
reflectindo o céu, as nuvens
e o verde salgueiral,
onde, no silêncio que ali impera,
se vê vogar o pensamento.
Procuro e não encontro já ali
o meu cais de embarque,
donde partií um dia remando na
canoa das minhas ilusões,
pois o rio, agora, espelha
apenas ausências doutro tempo.
A minha terra tem um castelo
de mouros que flutua,
vetusto e altaneiro, sobre
as brumas desse rio.
Percorro as ruas desertas e
silenciosas da minha terra,
calmas e cheias de ternura,
por onde adejam fantasmas,
bruxas e dianhos, fadas e duendes
das minhas fantasias.
Pela calada da noite oiço ainda
o longo bater das badaladas,
no relógio da torre da
igreja, vagabundeando as horas.
Aqui, algures, estão os
alicerces da minha construção
que o tempo há muito demoliu
e, agora, já são nada.
Na minha terra eu não existo,
é ela que existe em mim,
trazida pela espuma do tempo
no seu lento desfazer.
Por tudo isto é que aminha
terra não existe,
sou eu que a conservo no
formol da minha loucura,
e é a saudade, que magoa e
me entristece,
que ma traz de volta …
Sem comentários:
Enviar um comentário