domingo, 9 de novembro de 2014




A MINHA TERRA

 

A minha terra não existe, sou eu que a fantasio
com pequenos fragmentos que vou roubar ao passado,
peças de um puzzle que não se encaixam no presente.
A minha terra tem um rio que corre prazenteiro,
reflectindo o céu, as nuvens e o verde salgueiral,
onde, no silêncio que ali impera, se vê vogar o pensamento.
Procuro e não encontro já ali o meu cais de embarque,
donde partií um dia remando na canoa das minhas ilusões,
pois o rio, agora, espelha apenas ausências doutro tempo.
A minha terra tem um castelo de mouros que flutua,
vetusto e altaneiro, sobre as brumas desse rio.
Percorro as ruas desertas e silenciosas da minha terra,
calmas e cheias de ternura, por onde adejam fantasmas,
bruxas e dianhos, fadas e duendes das minhas fantasias.
Pela calada da noite oiço ainda o longo bater das badaladas,
no relógio da torre da igreja, vagabundeando as horas.
Aqui, algures, estão os alicerces da minha construção
que o tempo há muito demoliu e, agora, já são nada.
Na minha terra eu não existo, é ela que existe em mim,
trazida pela espuma do tempo no seu lento desfazer.
Por tudo isto é que aminha terra não existe,
sou eu que a conservo no formol da minha loucura,
e é a saudade, que magoa e me entristece,
que ma traz de volta …

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