domingo, 22 de setembro de 2013

A MACHAMBA


                                            A MACHAMBA
                                                                                                                      
                                                                                       
 
Curvada,
a cabeça quase a roçar o solo,
xicomo aferrado às mãos calosas,
mamana
amanha a machamba
 
Batida com toda a sua força, 
a lâmina de aço
resvala na terra dura e ressequida.

Na clareira que a queimada deixou livre
há-de ela plantar o seu sustento:
amendoim, milho e alguns pés de mandioca.
Seu filho ainda mufana
dormita embalado no seu balançar
bem seguro nas suas costas
pela capulana que ela amarrasobre o peito.
 
mamana
é que não pode sequer dormitar,
o tempo é curto, tem que trabalhar.
Sob aquele Sol tórrido,
peroram-lhe a testa bagas de suor,
que pingam, gota a gota,
e se somem na terra que abrasa. 

mamana
tem os braços já tão doridos
e nem por um momento sequer pode parar.
 O trabalho urge e ela nem sabe:
será que os Deuses, depois, vão mandar chuva?
 
mamana
isso não sabe apenas pensa:
ou, melhor, tem a certeza:
é  que se a chuva não vier,
é a fome que vai chegar,
sinistra, implacável, seca e dura
muito mais ainda,
do que aquela  terra que ela tem para arrotear

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XICOCO: enxada  MAMANA mulher adulta. MACHAMBA: horta, terreno de cultivo. MUFANA: miúdo, criança. CAPULANA: pano de cores garridas.


 




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