quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

 

 
                       CASTELO DE ALMOUROL
 
Vem de lá bem longe, da bruma dos séculos,
De um tempo antigo de demorada lembrança,
Façanhoso, alcandorado na sua jangada de pedra,
Rasgando o rio, atento e vigilante, hoje guardião do nada.
Nas suas muralhas ecoa, ainda, o desespero dos vencidos,
E o grito de vitória dos que lhe ultrapassaram a porta.
Lendária morada de gigantes e de mouras encantadas,
Palco de muita e inúteis lutas, goza, agora, da paz eterna
Num demorado sono em seu solitário eremitério.
Achei-me há dias - e só num sonho podia ter sido -
Remando novamente, rio acima, até aquela ilha.
Na noite escura, a lua cheia brilhava intensamente.
Galgada a escadaria esboroada pelo roçagar do tempo,
Penetrei no vazio imenso do castelo e chamei gritando:
Ramiro, Beatriz, Misaguarda, Polinarda!?
No alto das muralhas o vento afagava as ameias
E, naquele silêncio angustiante, ninguém me respondeu.
Se procurardes, no falar daquelas pedras, a razão das coisas,
Elas dissertarão sobre a verdade factual que faz a História.
Mas eu, que procuro no choro pungente dos salgueiros,
Um motivo justificado para esta minha nostalgia,
Oiço apenas o sussurro brando do rio que corre remansoso
 
 

 
 

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